top of page

Memórias falsas são mais comuns do que pensamos e podem ser boas para a saúde mental

O cérebro nem sempre busca a verdade, às vezes, ele prefere aquilo que nos ajuda a seguir em frente.



Imagine ter certeza absoluta de uma lembrança da infância, um passeio ao zoológico com seus pais, o cheiro do algodão-doce, o tigre rugindo ao fundo. E então, um dia, alguém da família jura que esse passeio nunca aconteceu.


Essa estranheza não é rara. Na verdade, ela é um fenômeno psicológico amplamente estudado: as memórias falsas. E o mais curioso? Elas não são necessariamente um defeito do cérebro. Em alguns casos, podem até ser uma forma de proteção emocional.


O que são memórias falsas?

Memórias falsas são lembranças distorcidas ou completamente inventadas que a mente registra como se fossem reais. Elas podem surgir de suposições, relatos de outras pessoas, imagens vistas em fotos ou filmes, ou até da própria imaginação. O mais intrigante é que, para quem as carrega, essas memórias são sentidas com a mesma intensidade de uma lembrança verdadeira.


A pesquisadora americana Elizabeth Loftus, referência mundial no assunto, mostrou em seus estudos que é possível implantar memórias falsas em indivíduos por meio de sugestões sutis, como convencer uma pessoa de que se perdeu em um shopping quando criança, algo que nunca aconteceu, mas que ela acaba "lembrando" com detalhes.


Por que o cérebro faz isso?

O cérebro não é um gravador. Ele reconstrói as memórias cada vez que tentamos acessá-las e nesse processo, pode misturar fatos reais com emoções, informações externas ou desejos inconscientes.


Segundo neurocientistas, esse "erro de gravação" não é falha, é uma característica adaptativa. Nosso cérebro prioriza coerência e bem-estar emocional em vez de precisão absoluta.


Memórias falsas podem ser positivas?

Sim, e isso é uma das descobertas mais fascinantes da psicologia moderna. Em muitos casos, memórias falsas servem como mecanismos de defesa emocional, permitindo que superemos traumas, sustos ou períodos difíceis.


Veja alguns exemplos:

  • Autoestima: Algumas pessoas "lembram" de terem sido mais corajosas ou bem-sucedidas em certas situações do que realmente foram. Isso as ajuda a manter uma autoimagem positiva e enfrentar desafios com mais confiança.

  • Relações familiares: Após a perda de um ente querido, o cérebro pode suavizar lembranças negativas e fortalecer as positivas, criando uma memória emocionalmente mais reconfortante.

  • Infância difícil: Algumas pessoas criam lembranças mais doces ou fantasiosas da infância como forma de suavizar traumas reais.


Quando se tornam um problema?

Embora muitas vezes inofensivas, memórias falsas podem ser perigosas em determinados contextos, como em depoimentos judiciais ou conflitos familiares graves. Por isso, seu estudo é essencial em áreas como o direito, a neurociência e a psicologia clínica.


Como proteger suas memórias?

Algumas estratégias ajudam a manter lembranças mais precisas:

  • Registrar experiências importantes (fotos, diários, áudios)

  • Conversar com outras pessoas que viveram a mesma situação

  • Aceitar que a memória é flexível, sem torná-la a única fonte da verdade



Memórias falsas fazem parte da experiência humana. Longe de serem apenas erros, elas mostram como o cérebro prioriza o bem-estar e a continuidade emocional. Afinal, mais do que lembrar exatamente o que aconteceu, muitas vezes nosso cérebro se ocupa de nos ajudar a seguir em frente.


Então, se um dia você descobrir que uma lembrança querida talvez nunca tenha acontecido... não se assuste. Talvez ela esteja ali porque você precisava dela.



Comments


bottom of page