Do Brasil para o mundo: o remédio que pode fazer tetraplégicos voltarem a andar
- thacianamariani

- 22 de set.
- 2 min de leitura
Criado por pesquisadores da UFRJ em parceria com o laboratório Cristália, o medicamento experimental polilaminina, feito a partir da placenta humana, pode transformar a vida de pessoas com lesão na medula.

Imagine perder completamente os movimentos dos braços ou pernas após um acidente, algo que muitos tetraplégicos enfrentam diariamente. Agora, imagine que uma substância natural, retirada de pedaços de placenta que seriam jogados fora, ajude a recuperar parte ou até todo esse movimento perdido. Esse é o cenário que começa a se desenhar com os primeiros resultados da pesquisa brasileira com polilaminina, um medicamento experimental desenvolvido pela UFRJ em parceria com o laboratório Cristália.
Depois de mais de 25 anos de estudo, há casos de recuperação motora significativa em pessoas e animais que sofreram lesões graves na medula espinhal. Mas antes que essa inovação chegue aos hospitais de todo o país, ainda há etapas importantes a cumprir.
O que é a polilaminina
A polilaminina é uma versão produzida em laboratório da laminina, proteína natural presente na placenta humana.
Ela atua principalmente no sistema nervoso, ajudando a restabelecer conexões nervosas danificadas, estimulando os neurônios a formarem novos “caminhos” onde eles foram interrompidos pela lesão.
Os estudos já feitos
Foram testados modelos animais (ratos e cães), onde se observou recuperação motora, em alguns casos, bastante rápida. Por exemplo, em ratos efeitos começaram a aparecer em cerca de 24 horas.
Em humanos, oito pacientes participaram de fase experimental. Alguns desses pacientes apresentaram recuperações totais ou parciais de movimentos após aplicação do tratamento.
Entre os participantes, há relatos de acidentes de trânsito ou quedas que provocaram lesões medulares (incluindo lesões graves). Um dos casos marcantes envolve um homem de 31 anos e uma mulher de 27 anos que, após a aplicação da polilaminina, conseguiram recuperar movimentos.
Como é aplicado
O medicamento é aplicado diretamente na medula espinhal lesionada, durante procedimento cirúrgico que já faria parte do tratamento da lesão.
O momento da aplicação parece ser muito importante: quanto mais cedo após a lesão, maior a chance de sucesso.
Limitações e cuidados ainda necessários
Apesar dos resultados promissores, os estudos feitos até agora foram com número reduzido de pacientes. Isso torna difícil afirmar com certeza o quanto o tratamento funciona para todas as pessoas.
O tratamento ainda não está aprovado pela Anvisa para uso geral ou comercial. Mais dados sobre eficácia, segurança e efeitos de longo prazo são necessários.
Ainda não se sabe quão eficaz será em lesões “antigas”, aquelas que já passaram muito tempo, ou em todos os tipos e níveis de lesão medular.
A polilaminina aparece como uma luz de esperança concreta para casos de lesão medular, algo que durante décadas foi considerado irreversível ou com opções muito limitadas de recuperação motora. É um avanço científico brasileiro significativo, com potencial para mudar vidas. No entanto, é preciso manter a cautela: é uma promessa que ainda está em construção, não uma cura pronta. Se os próximos ensaios clínicos forem bem-sucedidos, poderemos ver esse tratamento sendo utilizado de fato em hospitais no futuro próximo.



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